Noé Nunes Ferraz sendo Entrevistado


As Filosofias e Histórias de Noé

Em 1950, por ocasião do centenário de nascimento de D. Joaquim Arcoverde, Luís Cristóvão dos Santos era advogado em Rio Branco. Com o apoio de elementos do comércio local e da sociedade festejou o evento com uma conferência e outras solenidades.                                            

Especialmente convidados, estiveram em Rio Branco um dos filhos de Joaquim Nabuco, o Embaixador Maurício Nabuco, conhecido advogado e industrial Antiógenes Chaves e o velho professor do Instituto Carneiro Leão, no Recife, Dr. Sílvio Rabelo. A noite foram ao Bar e Sorveteria Confiança.

O Embaixador leu em uma das paredes da casa, entre dezenas de inscrições:

"Há entre o homem e o tempo

consequências bem fatais.

O tempo faz e não diz,

o homem diz e não faz.

O homem nem traz nem leva

e o tempo leva e traz".

(Noé)

Humano, compreensivo e generoso, disse na ocasião o filho de Joaquim Nabuco que o "Bar de Noé" havia sido uma das coisas mais formidáveis que ele havia visto na vida. Ali encontrara, entre outras atrações, "espírito, humor e inteligência".                                                   

Noé estava no momento com uma gravatinha de borboleta, sem o laço, com a qual sempre andava. Disse ao Embaixador que naquele dia estava festejando "bodas de prata" da gravata e almoçara uma buchada com os amigos.

Bar e Sorveteria Confiança era, então, a casa mais ve­lha da Avenida Cel. António Japyassu (número 433). Ficava an­tes na mesma avenida e mesma casa (Rua João Pessoa, n." 45).

No salão de telha vã. com cerca de 40 ou 50 metros de área, não havia um só lugar, em nenhuma de suas paredes e portas (4 portas de frente), no qual o "velho" não tivesse man­dado escrever um verso ou um ditado, alguns dos quais a gen­te não entendia bem.

O primeiro daqueles dizeres devia datar de 1932: "SE TEM RÁDIO BOTE O SEU, SE NÃO TEM NÃO BOTE O MEU" (NOÉ).

Alguns outros versos e inscrições do Bar e Sorveteria Confiança:

"Morre a mulher fica a saia,

Seca a maré, fica a praia,

Morre o homem fica a fama,

Boi morto não se levanta,

Quem não nasceu pra cantá

Morre danado e não canta" (Noé).

Na sei onde o velho foi buscar esta estória: "BOCAGE DISSE À RAINHA — BRINCADEIRA É SÓ UMA VEZ. EU DIGO:

BRINCADEIRA DEMORADA É UM PERIGO DANADO" (Noé).

Na quase totalidade das inscrições não nos foi possível manter a grafia e pontuação originais.

"As três coisas mais fáceis que eu achei:

prometer e não cumprir,

dar jeito nos negócios dos outros e dar lembrança" (Noé).

"A MEDIDA DO "PREVENIR" NÃO TEM COMPARAÇÃO COM A DE "REMEDIAR". É MELHOR COM PENA SENTIR DO QUE SEM REMÉDIO CHORAR. VÊ LÁ COMO ENVELHECER ACHANDO BOM. NOÉ SABE".

"O pai que não faz seus filhos

Chorá em pequeno, chora por eles,

Depois que faz todos os gostos

A eles, tem desgosto por eles e

Quem não faz eles trabalhar

Tem trabalho com eles

E mais! E mais! (Noé).

 

“E O AMOR DA MULHER NÃO VENCE O HOMEM, JÁ NÃO TEM OUTRO PUDER". PENSE (Noé).

"Viver todo o mundo sabe,

Mas só Deus sabe como viver sofrendo,

Não é viver que eu quero ver.

É viver gozando, e brincando,

E cantando. Isso é o quê me tem

Dado trabalho aprender" (Noé).

"NO MUNDO VENCE. OS QUE TÊM CALMA E FRACAÇAM OS VIOLENTOS OU QUE DEZESPERAM ANTES DO TEM­PO. FOI ASSIM QUE HITLER PERDEU E CHURCHIL GANHOU MAS FOI A GUERRA!".

"Com jeito se arranja tudo,

Com jeito tudo se faz,

Com jeito se leva o mundo,

Com jeito tudo se faz

Quem não sabe fazer isto

Tem de sofrer demais!"...(Noé)

"QUEM NASCEU E VIVEU SEM OS CARINHOS DE UMA MULHER QUERIDA, PODE DIZER QUE NASCEU E VIVEU NAS TREVAS, SEM CONHECER O MAIOR PRAZER DA VIDA. A PRI­MEIRA DE 1970. (Noé).

"Dizem que não há como o dinheiro

Mas eu dou minha opinião

Que não há como a camaradagem

Quando nasce da boa intenção

Eu tenho arranjado com ela

O que não se arranja com um milhão,

O dinheiro compra tudo

De quem não tem coração" (Noé).

Tenho a impressão, às vezes, de que não havia coisa al­guma no mundo, nem os irmãos, nem os próprios filhos, mais parecida com meu pai que o "Bar e Sorveteria Confiança", em Rio Branco.

Quem não o conhecesse e ali o procurasse, mesmo não o encontrando era como se o tivesse visto e conversado com ele. A alma das coisas passa, de fato, para a alma da gente. Agarrados um ao outro viveram mais de 40 anos e envelheceram juntos. Escrevemos na primeira edição deste livro: "Os dois desaparecerão um dia, na mesma ocasião".

William Porto em uma de suas crónicas para o JORNAL DE ARCOVERDE de 30.06.1983 (Ano II, n." 23), fala-nos de outros velho Bar de "Rio Branco", mas este de sua época e de amigos Chicão, Zezé Porto, Marcos Moreno, Mané Estrela, Doca, Suino, Sabará, Doquinha, Toinho do Coletor, Eraldo, Maria Fonseca, Dada do Cravo, Ivanildo de seu Luís da Singer, Pedrinho Luna e, entre outros, Justo.

            Ali conta-nos entre outras coisas que, "depois da morte James e do acidente de João Vicente, o "Escondidinho", fiel dois, foi perdendo o gás e não deu certo na mão de mais ninguém".

            E, escreve ainda William: "Os bares (nossos velhos bares, os bares das cidadezinhas do Sertão, meu caro William), muito de seus donos e de seus gerentes. Sem eles ficam sem alma. O "Escondidinho" tinha muito também dos filhos de James: Jamildo, Jamilson e Quinho (Jacques). E de D. Alice (minha prima). E de seus primos. Quando os meninos foram estudar no Recife, o Bar foi ficando vazio . Com a morte de James e a saida de Zé Vicente. Fim".

Há trinta anos, talvez, anunciava seu Noé no Serviço Alto falente do Cine-Bandeirante: "Bar e Sorveteria Confiança de Noé Nunes Ferraz. — Quem é o Noé? — Não é o da Sorveteria? — Noé é como os 12 pares de França, tem sido imitado, mas nunca igualado! — Quem dominou com padaria 19 anos em Custódia? — Noé. — Quem dominou com secos e molhados anos em Serra Talhada? — Noé. — Quem está dominando há 33 anos com Bar, Sorveteria e Restaurante em Rio Branco? Noé. No Bar e Sorveteria Confiança você encontrará os melhores petiscos e tanto compra gás, charutos, cigarros, ovos, caramelos, caviar, coco, sabão, língua de rouxinol, manga de candeeiro, azeitona, "melhoral", alpargata, galinha, açúcar, linguiça, cocada, mel de abelha, barbante e cabo de vassoura, como entre outros géneros, "elixir sanativo". Estaremos vendendo também logo mais, pau de cangalho. É Noé sempre o mesmo, da paz e do amor! É Noé Nunes Ferraz".

        Um dos bons amigos do velho, entre muitos outros, em Rio Branco, foi Nino Helvécio de Carvalho, nascido em Floresta do Navio em 1900 e falecido no Recife em 1970. Casado com ; Carlinda, são filhos do casal; Manuel, Nino, Helvécio, Vilma, Sueli, Ilma e Celi, que fez sucesso, faz alguns anos, no programa de J. Silvestre, no Rio de Janeiro, "O Céu é o Limite", respondendo sobre Mohandas Ghandi.

Mais ou menos em 1940, Celi (filha de Helvécio), estu­dava no Agnes Erskine. Como seu Noé vinha para o Recife, Helvécio pediu para o velho entregar uma encomenda à filha, no Colégio.

No mesmo dia, à tarde, um domingo, estava meu pai no Agnes Erskine. Disse a uma das irmãs, com a sala do Colégio cheia de gente, que queria falar com a menina Celi, filha de seu amigo Nino Helvécio, de Rio Branco.

— Sinhô fala menina Celi? Sinhô muito simpático. Es­pera um pouco. Mim vai chama menina Celi num instante pa­ra Sinhô.

Noé tinha umas coisas nas quais não era possível acre­ditar.

— Nom, Irmã. Mim nom ter pressa, mim espera.

— Sinhô formidável. Sinhô estrangeiro?

— Nom, Irmã, mim de Vila Bela. Mim só tem sotaque de estrangeiro.

As estórias que contam do velho em Rio Branco não têm fim.

"NÃO É BOM QUE O HOMEM ESTEJA SÓ". CONVERSAS COM O VELHO NO BAR E SORVETERIA CONFI­ANÇA. NOÉ ME ENSINA REMÉDIO. "VELHAS ÁRVO­RES", DE OLAVO BILAC

Quando a primeira esposa D. Licor veio embora para o Recife, para aca­bar de educar os filhos, meu pai agar­rado com o Bar e Sorveteria Confiança, aparecia, no início, uma vez por semana. Depois, uma vez por mês. Mais tarde, de três em três meses e depois que "Zacarias" (João de Arru­da Lacerda) deixou de trabalhar com ele, nunca mais apareceu. Dizia que para vir ao Recife tinha de deixar fechado o Bar e Sorveteria Confiança.

Entre outras coisas, porque leu no "Génesis" (como me disse certa vez) que "não é bom que o homem esteja só", es­tava o velho aos 80 anos de idade criando menino novamente. Depois que D. Licor veio para o Recife, arranjou mais 5 filhos em Arcoverde. Noé, Maria de Fátima, Maria Eliane, Fran­cisco Marcos e Verónica Aparecida.

Algum tempo antes de sua morte mudou-se com tudo quanto era criança para os fundos do Bar e Sorveteria Confian­ça e ali teve, certa noite, um edema agudo do pulmão. Dr. Luizinho (Luís Coelho Filho), Dr. Ruy de Barros Correia (Ruyzinho) e Dr. Jenecy Ramos trataram do velho. Três ou quatro dias depois dei­xava o Hospital ou a Casa de Saúde São Lucas e estava outra vez trabalhando.

Escreveu uma carta para Luiz Wilson mandando dizer que não tinha tido coisa alguma. A estória havia sido um entupimento no car­burador, mas estava, de novo, tinindo!

Luiz Wilson gostava de conversar com meu pai quando ia vê-lo em Rio Branco.

Uma ocasião ele conversando com Luiz Wilson lhe perguntou em uma das mesas do Bar e Sorveteria Confiança, se eu acreditava em "orações" que faziam um homem ou um cangaceiro, para desaparecer no meio de um tiroteio, transformar-se em um mocó, em um toco de pau ou em uma folha de marmeleiro carregada pelo vento, na caatin­ga.

Eu lhe respondi que não acreditava em muitas estórias em que muita gente acreditava no Sertão.

Em 1924, logo depois que o grupo de Lampião entrou .em Sousa, no Estado da Paraíba, "Meia-Noite" (António Augusto Feitosa), desentendeu-se com Virgulino e seus dois irmãos Livino e António, acusando a estes dois, de dedo no gatilho, de lhe furtarem 9 contos de réis.

Lampião, "sabendo a espécie de urutu com que andava", pagou ao cangaceiro de seu bolso os 9 contos, exigindo depois a entrega de suas armas.

Negro de coragem fora do comum, "Meia-Noite" disse para Virgulino:

— Se tiver home aí nesse meio, que venha toma minhas arma, incrusive você.

Lampião sabia que ele, ou seus irmãos, ou os seus ca­bras matariam "Meia-Noite". Mas "Nego Veio" não era doido. Sabia também quo ele, ou um de seus irmãos, ou os dois en­tregariam antes a alma ao Diabo.

Mandou o cangaceiro embora dizendo-lhe que não queria revoltoso no seu grupo.

"Meia-Noite", um ou dois dias mais tarde estava em um lugarejozinho de nome Tataíra, a 3 ou 4 léguas da outrora "Lagou da Perdição" e depois Princesa, no Estado da Paraíba, na casa de uma mulher com a qual vivia.

O Cel. José Pereira sabendo que o cangaceiro ali se encontrava, mandou um piquete de "12 cabras bons, 4 soldados e

8 paisanos, sob as ordens de Manuel Virgulino", com ordens de trazê-lo na corda "ou no pau", como porco morto a caminho do açougue.

Havia no local apenas 4 ou 5 casinhas de palha e des­coberto pela tropa o mucambo em que estava o bandoleiro, começou o tiroteio.                                         

Rodrigues de Carvalho, em SERROTE PRETO, LAMPIÃO E SEUS SEQUAZES (Segunda Edição, prefácio de Alberto Rangel, Sederga S. A., Gráficos Editores, Rio de Janeiro, 1974), conta nos que "Meia-Noite" atirava com uma rapidez que era de duvidar-se tal fusilaria pudesse partir de uma única "espingarda".                                                  

Depois de 3 ou 4 horas de fogo, o negro perguntou aoál atacantes se seriam capazes de lhe dar garantia a liberação da companheira, que nada tinha com a sua briga e desejava sair por não se julgar em segurança.                          

— A mulher pode sair que nós lhe garantimos a vida e a|| sua também se você quiser se entregar.

— Vocês são bestas, bando de fios de uma quenga, tô pedindo garantia pra Zumira que é muié. Eu sou "Meia-Noite" Eu sou home! Nós vamo continua a briga, magote de rapariga!

A mulher retirou-se do mouquiço de palha em que se centrava e recomeçou o fogo com o condimento dos mesn insultos, de lado a lado.

Após mais alguns instantes, chega ao local o Tenor Manuel Benício com uma volante de 80 homens (ib, pág. 284), às 3 ou 3 e meia da madrugada. Andava atrás de Lampião e seu bando.                                           

"Meia-Noite" viu, então, que estava perdido e depoia mais alguns minutos de luta disse para os inimigos:

— Segura a espingarda na mão, magote de cabra safado, pruquê eu vou sair dessa merda, eu vou imbora!

— Tamo as tuas ordens, muleque fio de uma puta! Nós queremo vê se tu sois doido mesmo'. Tamo te esperando...

Tomaram as palavras do preto como basófia e contínuaram a atirar na direção da palhoça em que ele estava. 

Mais algum tempo e a tropa percebeu que o bandido! via silenciado fogo. Deixou também de atirar pensando que o negro estava gravemente ferido ou tinha morrido.     

Entraram, então, os homens na casa, para recolhei restos mortais do cangaceiro, nada, no entanto, encontrando. Em um recanto de parede havia algum sangue no chão e ali estavam também, contaram por curiosidade, "quatrocentos e oitenta e nove cartuchos deflagrados" pelo preto, que anunciara que iria embora e foi mesmo.

Mataram-no depois em um rancho, pertinho de Patos, traído pelo velho que o abrigou e que fora buscar um curandei­ro para tratá-lo, trazendo em seu lugar o delegado Manuel Lo­pes Diniz, daquela povoação, e 5 ou 6 cabras.

O velho cangaceiro de destemor extraordinário morreu como tinha vivido, sem medo de coisa alguma neste mundo e depois de descarregar o "parabelum" e não poder carregá-lo outra vez, ferido em uma das mãos.

Meu pai sabia daquele tiroteio de "Meia-Noite" depois que o grupo de Lampião entrou em Souza e de como ele tinha deixado a casinha em que se encontrava, por isso que me per-guntou naquele dia, em Rio Branco, se eu acreditava em "ora­ções" que encantavam um cangaceiro no meio de um tiroteio. "em um mocó, em um toco de pau ou em uma folha de marme­leiro".

Nunca o convenci de que "Meia-Noite" não se encantou, naquele dia, em coisa alguma.

Nos tiroteios intensos (ib, pág. 286), forma-se uma nu­vem de fumaça, de modo particular, quando não há vento que a dissipe e, a fumarada engrossa, às vezes, a ponto de se trans­formar em cerração, anulando a visibilidade a dois ou três me­tros de distância. "A secura na garganta de quem está no "fo­go" é insuportável".

Acobertado pela noite ou pela madrugada (o dia não tinha ainda clareado) e pela fumaça do tiroteio de 4 ou 5 horas, que Meia-Noite deixou o mucambo em que estava, sem que ninguém o visse.

Não é possível acreditar é que 24 homens durante 4 ou 5 horas e depois, mais 80 cabras, embora por alguns instantes. fazendo fogo contra o negro ou contra a tapera em que ele se abrigava, não o tivessem morto, mesmo à noite e com a fumaça do tiroteio.

Ele escapou, no entanto, logo depois da chegada do Tenente Manuel Benécio e seus homens, arrastando-se pelo chão como uma cobra, não encantada, mas como a cascavel que sem pre fora nesta vida.

Dois ou três anos antes de meu pai morrer, disse-lhe certa vez, ainda no Bar e Sorveteria Confiança, que naquela noite vá meio doente, ou com a garganta doendo.

Meu filho, para amídala inflamada não há como pedra lípse!

- Mas como é que se toma essa pedra-lípse, meu pai?

— Bota-se um pouco em um copo d'água e mexe-se até ela começa a mudar de cor.                            '

— E leva assim uns 5 minutos pra mudar de cor?    

— Oxente! muda de cor nas primeiras paletadas.    

Vou lhe ensinar outro remédio. Pra hemorrida não há como as folhas de melão de São Caitano, que você conhece e que os passarinhos vivem aí comendo nas cercas de seu Jé e por trás da rua.                                         

— Mas meu pai. eu não tenho hemorrida.          

— Eu sei, homem, mas é para quando você tiver. é um santo remédio. Você converse com Wilson Porto, converse com "Bodão" e com muita gente aí na rua! (("Bodão" me disse um dia destes que o seu nome é José Pereira da Silva).

— Meu pai, o senhor está igual a Manuel Sinhor.

— Que nada, meu filho, Manuel Sinhor era doido (Manuel Sinhor foi o maior curandeiro, talvez, de Rio Branco e de todo aquele mundo, em sua época).                       

Uma das noras de meu pai me perguntou certa vez:    '

— Por que seu Noé não vem para o Recife?

Eu lhe respondi:                                   

— Daqui a 100 anos, meu pai ainda estará no Bar e Soveteria Confiança, em Rio Branco, em pé, na "registradora", lavando as mãos e mexendo lá dentro, no "laboratório", ou na Padaria Confiança, que foi a outra metade de sua vida, conversando com o Cel. Arcelino de Brito, com o seu grande amigo, Jeremias Amaro, com seu Jordão (da vilazinha de Umburanas), com "compadre" António (da Melancia), com seu Raul (viajando da Fábrica de Biscoitos Confiança, no Recife), ou sentada em um tamborete, à tardinha, em frente a uma das portas da "casa" (com um reclamo, no alto, de "Licor de Cacau Xavier"),  assobiando e o homem mais feliz do mundo.

No Carnaval de 1977, "Desco & Nheocidos", em Rio Branco, fizeram este "samba-enredo", "Saudades de Noé":

"Noé de lá pra cá

Muito se transformou

Mas o povo ainda lembra

Do homem que não era doutor

Vamos cantar o filósofo do balcão Na figura deste pensador Do Rio Branco que tanto amou Noé do Bar e suas brincadeiras

    

Estribilho

De suspensórios e relógio de algibeira

Atrás do balcão ou na rua Improvisando provérbios populares Morreu deixando saudades

Morreu deixando saudades

No povo de nossa terra"...

O"velho" a partir de 1926, não brincava o Carnaval. Tra­balhava os três dias no "Bar e Sorveteria Confiança". Acabava-se, no entanto, em certa época, no passo e na brinca­deira, entre outros amigos, com Juve, Arthur Campos e "com­padre" Luiz de Brito, na "quarta-feira de cinzas".

Lembrava-me, às vezes, algum tempo antes de Deus le­vá-lo desta vida, como me lembram, hoje, alguns outros ami­gos, em Arcoverde, estes versos do soneto de Bilac — "Ve­lhas Árvores", — de um dos meus livros de leitura, na Escola de D. Amélia, em Rio Branco, faz muitos anos:

"Olha estas velhas árvores, mais belas do que as árvores novas, mais amigas:

tanto mais belas quanto mais antigas, vencedoras da idade e das procelas"...